Aqui vai uma passagem do livro "A história da aviação no Ceará" (Augusto Oliveira, Ivonildo Lavôr. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora Ltda. 2007) que Bruno digitou e que está no site do gordo. Estou tentando comprar o livro, mas até agora sem sucesso. Quando tiver alguma notícia de onfde encontrar o livro publico aqui no blog. Leiam o trecho.
Enumeramos, a seguir, alguns fatos pesquisados sobre a Segunda Grande Guerra em Fortaleza. Além de livros, revistas, jornais e narrativas do jornalista e escritor Geraldo da Silva Nobre, conversamos com o veterano e saudoso piloto do aeroclube do Ceará, Hélio Guedes Pereira. Veja a seguir.
De acordo com Geraldo Nobre, a partir de junho de 1941, Fortaleza intensificou exercícios de “defesa passiva”. Os treinamentos com a população levavam em conta possíveis ataques inimigos…
A população estimada de Fortaleza em 1941 era de 180.185 habitantes, os habitantes vivenciando um total clima de expectativa em torno de um conflito mundial.
Havia muita desinformação e despreparo. Essas foram as condições que os Fortalezenses “enfrentaram” com os terríveis inimigos dos aliados, as forças do Eixo.
Segundo o jornal O Povo, edição do dia 26 de janeiro de 1943, “foi realizado domingo, na zona fabril de Fortaleza, o segundo exercício de defesa pacífica antiaéreo, promovido pela diretoria regional…”
Às 9h30min precisamente, os bombeiros que se localizavam na torre de comando do quartel, no edifício da Praça Fernandes Vieira (Praça do Liceu), anunciaram a aproximação dos aviões inimigos. A medida era tida como necessária para “preservar” a cidade de possíveis ataques por submarinos.
Geraldo Nobre relata também que “o setor civil, encarregado da defesa, orientava para que as famílias pintassem de preto as vidraças das janelas e portas para impedirem, que à noite, devido à iluminação interna das casas, principalmente aquelas que ficavam mais próximas da orla marítima, fossem alvo também da ação dos inimigos”…
“Em agosto de 1942, o Brasil já participava da 2ª Guerra ao lado dos aliados. Os cearenses temiam que a capital cearense fosse ponto estratégico para a guerra na África, sujeita, portanto, a possíveis bombardeios”, lembra o historiador.
Imediatamente, ainda segundo o jornal, “as sirenes soaram o alarme. Os aparelhos do aeroclube do Ceará, em número de quatro, sobrevoaram a zona visada, atacando de preferência, os prédios do liceu e do corpo de bombeiros”.
O jornalista e escritor Geraldo Nobre, em entrevista ao Jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza, em 24 de maio de 1995, data comemorativa dos 50 anos da vitória dos aliados na 2ª Guerra Mundial, disse que o corte de energia elétrica era sempre feito à noite, mantendo a cidade sobre blecautes, medida antipática e que causava medo à população.
Geraldo Nobre fala também de notícias alarmantes que aqui chegavam e alimentavam cada vez mais o sentimento de medo da população, ensejando as autoridades militares e civis que organizassem um serviço de defesa para a cidade.
Treinamentos diários de sobrevivência eram realizados com a população. Os fortalezenses quase entravam em pânico a cada simulação de “bombardeio” que era realizado pelos monomotores do aeroclube do Ceará.
O veterano e saudoso piloto do aeroclube do Ceará, Hélio Guedes Pereira, disse que durante 30 minutos vários aviões – sendo um deles, sem dúvida, pilotado pelo mestre Hélio – sobrevoaram a cidade em vôo rasante, principalmente sobre as Praças do Ferreira, José de Alencar e Praça do Liceu.
Como as antigas aeronaves não tinham luzes de navegação, Hélio Guedes Pereira informou que a saída encontrada pelos pilotos da época era amarrar lanternas na montante dos aviões para evitar possíveis colisões. “Sirenes eram acionadas e o povo corria para se abrigar como se a cidade estivesse sendo realmente bombardeada”, disse.
Mestre Hélio contou ainda que os pilotos, logo que avistavam um transeunte, tentavam acertá-lo com pequenos sacos de cal.
Cenas hilariantes aconteceram durante os “bombardeios”, relembrou o experiente piloto. Segundo ele, o fato mais engraçado de todos ocorreu com o comandante do corpo de bombeiros, na época o capitão PM José Nogueira Caminha. “Ele foi atingido por um dos sacos de cal, um petardo de 500 gramas”, disse. O citado militar, segundo ainda Hélio Guedes, que era também membro da defesa passiva, ficou muito envergonhado com o acidente.
Ainda como defesa da cidade, descreve Hélio Guedes, “foram transferidos para o farol do Mucuripe (farol velho) cerca de 12 canhões da marca krupp, com o objetivo de revidar possíveis ataques alemães”.
Na realidade os velhos canhões fabricados na Alemanha pouco poderiam fazer com relação a possíveis ataques submarinos. Eram armas de artilharia próprias para serem utilizadas terra-a-terra. Além disso, tinham o alcance médio de no máximo dois mil metros.