26 outubro, 2006

Eleições no Brasil - O que eu tenho a ver com aquecimento global?

Venho acompanhando as eleições presidenciais pela internet aqui da Austrália. Acho eu que faltam propostas de longo prazo. Seria interessante saber o que os nosso presidenciáveis pensam sobre o que o Brasil pode se transformar em 20 ou 30 anos, ao invés de planejarem o Brasil apenas para as próximas eleições.

Estava pensando nisso depois que li a entrevista na revista Veja desta semana com o James Lovelock, o criador da hipótese Gaia - que diz que o planeta Terra funciona como um ser vivo e que qualquer alteração em uma parte do planeta afeta as outras partes. Na entrevista ele prega o uso de energia nuclear como forma de retardar o aquecimento global. O Lovelock é bastante pessimista em relação ao planeta, dizendo que o Brasil, Austrália, EUA, dentre outros países, vão sofrer muito com as mudanças climáticas por causa da queda da produção agrícola e a escassez de alimentos. Eu não sou tão pessimista assim como ele, mas a entrevista é um bom começo para se pensar que as políticas ecônomicas, ambientais e sociais têm que ser integradas e vistas a longo prazo. Por exemplo, projetos que podem afetar o clima numa região, como a transposição do São Francisco, podem ter um impacto positivo no curto prazo. Porém, a longo prazo a transposição pode afetar outras áreas do país, causando perdas sócio-econômicas, como queda na produção de alimentos. Além disso, a establização de um regime de secas e cheias, causa também impactos ecológicos diretos, como a extinção de espécies que dependem das secas e das cheias do rio. Sei que o sertão nordestino precisa de água, mas também acho que existem outras soluções mais baratas e mais eficientes. Bom, isso foi só um exemplo, dentre muitos outros. Na entrevista do Lovelock ele fala também do uso do álcool combustível que, por uma lado emite menos poluentes, mas por outro vai incentivar o desmatamento de nossas florestas para aumentar as áreas de produção de cana-de açúcar.

A mudança climática global não é um problema novo. Recentemente foi descoberto um fóssil de peixe aqui na Austrália, com cerca de 380 milhões de anos (foi também notícia no Brasil). O fóssil é do período Devoniano, um período geológico onde a Terra possuia níveis de CO2 atmosférico entre 10 e 12 vezes mais elevados que os atuais e, como consequência as temepraturas também eram consideravelmente mais altas. O Devoniano foi também o período onde as florestas tropicais começaram a se desenvolver. No final desse período houve uma extinção em massa, comparável a extinção dos dinossauros do Cretáceo, onde ocorreu o desaparecimento de cerca de 60% das espécies viventes então. Uma hipótese é que com o crescimento das florestas o CO2 passou a ser absorvido rapidamente e houve uma diminuição acentuada nas concentrações deste gás na atmosfera e, consequentemente, uma diminuição abrupta da temperatura do planeta. Como resultado as calotas polares congelaram, ocasionando uma regressão do nível relativo do mar. Olha ai a hipótese Gaia de novo...

O grande problema do aquecimento global atual é que o homem é o maior causador das emissões dos gases estufa, como o CO2. O ambientalista David Suzuki (que é contra o uso de energia nuclear) enfatiza que a comunidade científica só se deu conta do probema do aquecimento global no início deste século. O Lovelock, na sua entrevista, diz que se a consciência sobre sustentabilidade do planeta houvesse ocorrido quando população da Terra era de 1 bilhão de pessoas, talvez os efeitos do aquecimento global não seriam tão intensos. Ele diz que com 6 bilhões de habitantes é praticamente impossível pensar numa redução na emissão de poluentes sem levar em conta o uso de energia nuclear. Ele diz o seguinte: "Cem gramas de urânio equivalem a 200 toneladas de carvão, em termos de energia gerada. Com 100 gramas de urânio não se produzem mais do que 100 gramas de lixo atômico, enquanto a poluição emitida pela queima de 200 toneladas de carvão é de 600 toneladas de dióxido de carbono. Entre 100 gramas e 600 toneladas de resíduos, é óbvio que o carbono é um problema maior".

Sim, mas o que que eu tenho a ver com o aquecimento global? A própria história da chegada dos meus antepassados no Brasil (vejam ai o post do Toussaint Gurgel) pode estar relacionada com mudanças climáticas. O 'vovô' Toussaint chegou ao Brasil no século XVI, portanto dentro do período conhecido como 'a pequena idade do gêlo'. Durante essa época ocorreu um resfriamento no clima principalmente no hemisfério norte. As baixas temperaturas causaram declínios na produção agrícola e é provável que as grandes navegações foram, em parte, impulsionadas pela escassez de alimentos. Portugal e Espanha saíram na frente, mas depois vieram França, Holanda e Inglaterra. É ai que entra em cena o vovô Toussaint Gurgel. Na condição de corsário Francês, ele tentava beneficiar conquistando uma parte do Brasil, um provável centro produtor de alimentos e, é claro, de outras riquezas naturais. Houve também um importante fator religioso na história. Portanto, não seria errado dizer que o vovô Toussaint talvez estivesse envolvido em um dos primeiros conflitos armados como consequência das mudanças climáticas que o mundo estava passando.

Alckmin ou Lula, não seria mesmo interessante pensar a longo prazo?

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